quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre o Yaoi no Brasil - Um apanhado dos últimos 10 anos do fandom sob a visão de uma Fujoshi


Shun e Hyoga, meu primeiro Ship

Quando eu tinha 08 anos, tive contato com meus primeiros animes, que foram ambos em VHS, uma com dois episódios do anime “A Rosa de Versailles”, popularmente intitulado por aqui de “Lady Oscar” e a outra do filme de Cavaleiros do Zodíaco, “A batalha de Abel”. Eu fiquei maravilhada com os traços dos personagens, seus olhos grandes e expressivos e a forma como o enredo das animações seguia o curso. Neste momento, eu ainda não sabia nem o que era um anime.

Capa de "O Coração de Thomas" 
E a partir daí eu comecei a colecionar revistas sobre animes e absorver informações a ponto de parecer uma enciclopédia humana. Mas o ponto aqui é que eu não esqueço até hoje quando eu li algo relacionado a Yaoi pela primeira vez. Foi em 1996, quando comprei a edição n.02 da revista Anime>Do, nela havia uma matéria sobre os bishoujos e apesar de não citar o termo explicitamente na matéria, fizeram referencia a um dos primeiros mangás do gênero lançados. “O coração de Thomas” de Hagio Moto.
Alex in Wonderland
do grupo "gatos pingados"
Desse momento, eu, que já shippava sem sequer saber da existência dessa expressão, passei a procurar por mais informações. Infelizmente, naquela época não havia um acesso ilimitado a internet, como acontece hoje, e eu dependia das revistas e publicações escritas para coletar informações.

Meu segundo contato direto com o Yaoi veio por volta de 2002, com a minha primeira ida ao Anime Friends e a compra de alguns volumes do fanzine do (já extinto) grupo “Gatos Pingados”, mas nessa época eu ainda não sabia exatamente o que era o fandom yaoi e muito menos que esta palavra existia.

Foi só em 2004, com a descoberta de um índex que abrigava vários sites com conteúdo yaoi que eu finalmente comecei a compreender o significado da palavra e o tanto que ela abrangia. De 2004 à 2006 eu passei a publicar no (XY)² fics originais e receber comentários e ter interação com os leitores, aquele foi meu primeiro contato direto com outros fãs do gênero.
Capa do mangá New York²
É bom ressaltar que ainda em 2004, eu tive contato com meus primeiros mangás yaois, antes por um site de
raws chamado vampyre.net e depois, através de um fansub que atualmente já fechou, mas foi responsável por começar a traduzir um dos meus mangás favoritos. “New York, New York”.

E foi também neste ano que eu tive contato com os primeiros animes Yaois (boa parte com conteúdo lemon), presentes de um amigo. No pacote havia “Papa to Kiss in the dark”, “Sensitive Pornograph”, “Ai no Kusabi” entre outros, mas eu ainda estava aprendendo o que significava a palavra e quase não sabia nada dos outros termos utilizados dentro do fandom.

Grupo Yaoi Writers
Em 2008 eu criei minha conta no facebook e ingressei no finado grupo “Yaoi Writers” e ai sim, meu horizonte sobre o fandom se expandiu de forma drástica, pois ali eu conheci outras verdadeiras fãs do gênero, boa parte delas, com mais tempo de casa e conhecimento do que eu. Foi neste ano também que eu me cadastrei no Aarinfantasy, o maior e mais completo fórum internacional de Yaoi.

Um ano depois, junto de uma amiga, dei inicio a este blog, de traduções de mangás yaois e comecei a interagir com fansubs estrangeiros em busca de scans e materiais para disponibilizar para download. Foi também neste ano que eu deixei o comodismo de lado e parei de ler apenas mangás em português, indo atrás de scans feitos por fansubs estrangeiros,  começando no espanhol “AYaoi” e terminando no americano “Blissiful Sin”.

E então vieram as salas temáticas, que eu comecei a promover a partir de Setembro de 2012, muito trabalho, correria, canseira e realização ao ver o pessoal entrando e curtindo o material, a decoração, os produtos.

Em 2013 eu criei minha conta no tumblr, descobri o 4chan e outros tantos fóruns de imagens da internet, o que expandiu ainda mais minha gama de coletar informações e imagens.
Capa do jogo Dramatical Murder

Meu outro ponto alto na minha trajetória Fujoshi (e eu fui aprender o que era essa palavra há quatro anos),
aconteceu agora em 2014 e foi descobrir os VN (Visual Novels) por conta de algumas amigas que jogavam, mais especificamente, Dramatical Murder, baixei e instalei (com um pouco de sofrimento) os dois jogos e ainda os estou jogando, mas o fandom dentro do fandom (Dmmd dentro de Yaoi) já se tornou um dos meus favoritos.

2014 foi realmente um ano cheio, tivemos lançamentos de adaptações para anime de mangás e jogos conhecidos, o fechado do mangatraders (coisa que me chateou demais), mas no geral, tivemos ótimas experiências no fandom de forma geral. 

Agora falando do fandom em si, tenho de dizer que infelizmente algo me entristece um pouco. Atualmente o fandom Yaoi é composto por pessoas de 12 anos ou menos (mas o problema maior não é a idade, apesar de yaoi com cenas lemon ser voltado para a faixa etária de 18 anos para cima), com uma postura um tanto medonha a favor do estupro e outras práticas cruéis retratadas em certos títulos de mangás. Isso me assusta, afinal, de onde vem essa forma absurda e permissiva de pensar? (mas enfim, isso fica pra outro texto).

As editoras e manga-kás japonesas atualmente estão investindo mais em mangás sem plot do que em enredos que atraiam, enquanto que as produtoras e estúdios de animes, pelo outro lado, vem escolhendo cada vez títulos mais fracos de lemon e profundidade de enredo para transformarem em anime.

 
De 1996 até 2014, muita coisa a aconteceu. Surgiram e fecharam vários fandons, com os quais eu tive contato, foram lançadas webcomics, uma então novidade no meio yaoi, um estúdio de pequeno porte publicou seu primeiro mangá nacional, editoras brasileiras lançaram títulos yaois com algum peso, ficwritters publicaram livros, eu fiz e visitei salas Yaois, aprendi mais sobre o Yaoi (que no Japão se chama BL agora) e olhando para esse texto que eu estou escrevendo, posso dizer que fui uma fangirl feliz, posso não ter pego a era dos Ircs, RPGs no ICQ, fanzines feitos com cola+papel (juro, queria ter vivido esse período), mas o que eu consegui  conhecer e absorver me foi o suficiente.

Só posso dizer que estou feliz de estar há 18 anos neste fandom e que venham mais 18, 30, 50, 100 anos! Feliz dia do Yaoi a todos e espero que tenham se identificado, mesmo que apenas um pouco, com esse meu pequeno relato pessoal.

3 comentários:

  1. Como uma Fujoshi mais experiente, assim como você eu compartilho desse medo, asco, estranheza dessa nova geração. Que leva o yaoi pelo mesmo caminho que os meninos levam yuri, conteudo puramente fetichioso. Aonde foi parar o amor? Onde estão mangas como Love Mode, Kusatta, Kizuna? Boa matéria, feliz Yaoi Day ^-~

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  2. Obrigada por ter fundado este blog que me traz tantas alegrias . Eu também gosto de yaoi quando a romance nele . Estou sempre visitando vocês . Muito obrigada por estarem ai . Beijos de uma fã.

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  3. Noossa! Adorei a matéria, você escreve tão bem, concordo contigo.

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